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terça-feira, 13 de março de 2012

Morador de Aeroporto

Era cedo, eu chegava pra mais um dia de labuta no Aeroporto Internacional do Rio. Me deparei com um sujeito estrangeiro, perdido no saguão daquele aeroropoto imenso. Na minha cabeça era só mais um passageiro procurando sua companhia aérea. No dia seguinte, chegando mais uma vez por volta das 5 da manhã, me deparei com o mesmo sujeito, ja deitado naqueles bancos de ferro desconfortáveis que todo aeroporto tem. Em volta, muitas sacolas improvisadas. Parecia mais um morador de rua dentro de um aeroporto. Não, morador de rua não, um morador de aeroporto. Depois de alguns dias, criei coragem e fui conversar com o sujeito. Isso me daria uma boa matéria para o blog da faculdade na época que estudava Jornalismo. Então aproveitei. Com um pequeno gravador, iniciei a conversa com um Olá. Muito recepetivo, começou contar sua história. Um moreno, muito alto, de nome Agustinho, era Angolano. Estava ali porque seu passaporte havia vencido a alguns anos, e esperava a legalização do documento pra seguir viagem. Durante 1 mês, um dos maiores aeroportos do Brasil serviu de casa para uma Angolano desamparado. A prefeitura havia disponibilizado um albergue, mas o sujeito queria estar por perto, então resolveu se "hospedar", de vez, no Galeão. Sem dinheiro, os funcionários do aeroporto ajudavam o homem com laches, sucos e água, diariamente. Eu, alguns dias depois, entrei pro time dos solidários. Agustinho virou amigo dos integrantes daquele lugar. Conversava, oferecia o lanche ganho para cada um de nós, nos ajudava carregando caixas, quando era necessário. Se tornou popular, era engraçado. Isso me remeteu a imagem de Tom Hanks na pele de Viktor Navorsk, que vive dias no aeroporto de Nova Iorque no filme "O Terminal". Diferente do filme, eu não sei o fim da história de Agustinho. O que sei é que ele tinha tinha sentimentos raros que a gente conseguia ver nos olhos: humildade, solidariedade e alegria. Algumas semanas depois já não trabalhava naquele lugar, e até hoje não sei o desfecho da história dele. O que sei é que encontrei nos olhos daquele Angolano um brilho na qual jamais senti antes. Se o destino dele foi um final feliz como a de Viktor no filme "O Terminal", eu não tenho ideia. Mas tenho a certeza de que aquela humildade  fez com que conhecesse, talvez, os melhores amigos que ele não poderia esquecer. Se esquecer, não tem problema. A gente não esquece dele.

Por Natália Arantes

Um comentário:

  1. Caraca filha, fiquei toda arrepiada agora de relembrar essa história...me lembro muito bem dela!!!

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